Eu nunca tive um bom
lugardossonhos
Era uma vez uma menina chamada Maria. Tinha onze anos e não era muito bonita. Há meninas que não são populares na escola por não as acharem muito bonitas, mas isso não era um problema para a Maria. Não tinha muitas amigas na escola, mas era feliz assim.
A Maria também não era muito boa aluna, os colegas tinham sempre melhores notas que ela. E até se esforçava. Às vezes tinha dúvidas, mas a Maria era uma menina muito tímida e tinha vergonha de perguntar, com receio de ser gozada pelos colegas. E além disso, os professores não conseguiam ter tempo para dar a atenção necessária aos alunos com mais dificuldades, pelo que ficava sem saber algumas coisas. Queria e tentava fazer os trabalhos de casa, mas o pai, esse estava sempre na fábrica a trabalhar, e a mãe não sabia ajudar muito, porque tinha andado poucos anos na escola e estava sempre muito assoberbada com os afazeres da casa.
Um dia a Maria escreveu no caderno: “Eu nunca tive um bom, nem sequer um bom pequeno. Gostava tanto de ter um”.
Umas aulas depois a professora avisou que a turma iria ter um teste. A Maria, como sempre, fica nervosa no dia de teste, dá-lhe um friozinho na barriga, não quer falar nem brincar com ninguém. Mas depois de o fazer ficou mais tranquila, achou que até tinha corrido bem.
Quando a professora devolveu os trabalhos, a Maria viu escrito em letras gordas: "BOM", bom grande. A Maria nem queria acreditar no que os seus olhos viam, e tão vaidosa até se sentia mais crescida.
Os pais ficaram muito orgulhosos. A Maria podia não ter sempre notas tão altas como outros colegas, mas já tinha tido um bom. Um bom grande, aquele bom grande.
Felizmente há professores que sabem que avaliar não é apenas classificar e muitos estão atentos às Marias que nunca tiveram um bom e que muitas vezes se perdem na transparência do anonimato.