Uma história de carnaval
lugardossonhos
Era uma vez um palhaço pobre que tinha um saco de retalhos cheio de uvas pretas e um grande guarda-sol. Chegou a um campo de relva, desdobrou o lenço de assoar (que era grande e lavadinho) e sentou-se sobre o lenço. Tirou as uvas pretas do saco de retalhos. Mas, antes, tinha aberto o guarda-sol que espetou na terra (sabe-se lá, ainda podia vir a ser um girassol!). E pôs-se a comer muito contente.
Passou uma rapariga por ali (mascarada à moda da terra dela) e disse-lhe, muito admirada:
- Tu, no Carnaval, a comer uvas? E debaixo de um guarda-sol?
- Tenho direito a ser palhaço, mesmo pobre, fora do circo. E, afinal,não é disparate nenhum, vendo bem as coisas. Faz sol. E não só isso...
- E as uvas? Neste tempo! Como as arranjaste?
- Tinha-as guardadas numa caixa cheia de areia. Uma caixa de madeira, não penses lá que é de plástico. Os mágicos não tiram pombas e lenços (e outras coisas) das suas caixas? Pois eu tirei uvas de uma caixa com areia. E divirto-me.
- Bom. Talvez tenhas razão. Tu não és mentiroso. Mas como te divertes assim sozinho?
- Troco as estações. Faço uma baralhada. Faço do Fevereiro Setembro. E, assim, estou abrincar ao Outono, percebes?
- Percebo...- Vou ser palhaço! Carnaval é fingir ser o que não somos. Ponho um nariz de abóbora e um...grande laço. É ser uma borboleta, fada, leão ou elefante. É falar aos amigos com voz a fingir, trocar de nome e não parar de rir. Ponho uma caraça feia, um narigão enorme e o chapéu do meu avô.
No Carnaval há serpentinas no ar. Há sonhos a voar, nas máscaras de cada um.